Diretor do Centro ALGORITMI entrevistado pelo Jornal Online da UMinho
Como surgiu o ALGORITMI?
O ALGORITMI é um dos mais antigos centros de investigação científica da Universidade do Minho. Foi criado com a designação de ALGORITMI em 1992, quando, com a extinção do Instituto Nacional de Investigação Científica (INIC), o financiamento dos centros de investigação ligados às instituições de Ensino Superior foi transferido para a JNICT. De 1978 a 1992, funcionou com a designação de Centro de Ciências e Engenharia de Sistemas (CCES, sendo a primeira unidade de investigação científica portuguesa no domínio da Informática e da Eletrónica. É importante salientar que a Universidade do Minho foi a primeira universidade portuguesa a oferecer uma licenciatura em Informática em 1976, assim como um mestrado e um doutoramento em Informática, respetivamente em 1984 e 1986. Os docentes desses cursos eram maioritariamente investigadores do CCES.
Como descreveria o espaço e as infraestruturas do centro?
O ALGORITMI tem a sua sede no campus de Azurém em Guimarães, na Escola de Engenharia. Os seus espaços de investigação são partilhados com os departamentos de Produção e Sistemas, Informática, Sistemas de Informação e Eletrónica Industrial, nos campi de Gualtar e de Azurém. Muitos projetos de investigação são também desenvolvidos em parceria com o Centro de Comutação Gráfica em Azurém, sendo também partilhadas algumas infraestruturas. O ALGORITMI tem cerca de 500 investigadores, dos quais cerca de 230 são doutorados e professores dos 4 departamentos já referidos. Cerca de 40% dos Professores da Escola de Engenharia são investigadores do ALGORITMI, o centro da Escola e da Universidade com o maior número de membros que são também docentes de carreira. Além disso, o ALGORITMI tem também um elevado número de investigadores contratados, bolseiros de investigação e alunos de doutoramento.
Tem os recursos que deseja?
O ALGORITMI não tem os espaços e os recursos que deseja, mas o bom relacionamento que existe com os departamentos e a Escola, assim como uma gestão rigorosa de espaços e de recursos, têm permitido fazer face às dificuldades.
Que equipas e unidades de investigação tem?
O Centro ALGORITMI é uma unidade de investigação da Escola de Engenharia da UMinho, que, no âmbito das Tecnologias da Informação, Comunicações e Eletrónica (TICE), desenvolve atividade de I&D em quatro grandes áreas: Engenharia Eletrotécnica, Eletrónica e Nanotecnologias; Investigação Operacional, Estatística e Métodos Numéricos; Sistemas de Informação, Software e Multimédia; e Comunicações, Redes de Computadores e Computação Ubíqua. A sua estrutura de trabalho divide-se em 6 grandes grupos de investigação: Tecnologias e Ciências da Computação; Tecnologias e Sistemas de Informação; Comunicação por Computador e Media Pervasiva; Eletrónica Industrial; Engenharia e Gestão Industrial; e Investigação Operacional e Engenharia de Sistemas.
Que balanço faz do percurso desta unidade até ao momento?
O centro ALGORITMI tem uma longa e orgulhosa história como unidade de investigação portuguesa nas Ciências da Computação e Engenharia, contando com mais de 40 anos de existência. Ao longo deste percurso centenas de projetos nacionais e internacionais, com financiamento público e também privado passaram por esta unidade, projetos com impacto significativo no Sistema Cientifico e Tecnológico Português e no mundo, tendo como base uma investigação e uma educação avançada de qualidade. Este Centro afirma-se como um centro multidisciplinar, com uma atividade internacional heterogénea, mantendo ativos programas de intercâmbio com universidades e centros de investigação em todo o mundo. Hoje, o ALGORITMI apresenta-se como um centro de investigação competitivo, sendo uma referência nacional e internacional.
Qual o principal fator da sua afirmação?
Existem vários fatores que sustentam a afirmação do Centro ALGORITMI , tais como o aumento do financiamento a projetos de I&D; a participação elevada em projetos internacionais; a participação em organizações cientificas internacionais; a aposta em parcerias com a indústria, promovendo a transferência de conhecimento e de tecnologia para o exterior; o aumento da atribuição de bolsas e de contratos a investigadores fomentando condições de trabalho mais estáveis; a contribuição para o desenvolvimento regional e nacional; a publicação de artigos científicos com grande impacto internacional; o desenvolvimento sustentável através de financiamento ou comercialização dos resultados da investigação.
Que eventos destaca?
O centro tem vários investigadores envolvidos na organização de eventos científicos, como são os casos das conferências internacionais, workshops e simpósios. Durante o ano de 2018 foram dezassete eventos, em temas tais como Saúde Ocupacional e Higiene, Tecnologias da Informação, Inteligência Artificial, Inteligência Ambiente, Controlo, Simulação, Sistemas de Navegação, Inovação, Empreendorismo, Qualidade, Entretenimento, Engenharia Económica, Aprendizagem Interativa.
Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
O Centro ALGORITMI centra a sua atividade em projetos com uma forte ligação à comunidade, i.e., a indústria e a administração pública. A Universidade do Minho está localizada numa região industrializada com uma expressão importante em indústrias têxteis e do calçado e em empresas de serviços TICE e sector industrial automóvel ganhou recentemente uma forte expressão na atividade local. Outro fator externo que tem influenciado o nosso campo de aplicação é o crescimento das cidades da região, que tem promovido a cooperação entre diversos investigadores por forma a atuarem em domínios como a logística, comunicações, governo eletrónico e gestão de recursos. Os resultados desta estratégia de atuação são demonstrados pelo número de projetos de investigação aplicada em colaboração com empresas e por projetos nacionais apoiados pelos programas operacionais e o centro participa ainda em diversos projetos europeus. Podemos afirmar que a recetividade do público – nacional e internacional – ao trabalho desenvolvido por toda esta família de investigadores tem sido muito positiva e de forte reconhecimento.
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Para os próximos tempos, os nossos objetivos centram-se na melhoria da inovação na investigação, na consolidação da interdisciplinaridade; no aumenta da nossa influência internacional; no lançamento de bases para maximizar a transferência de conhecimento e de tecnologia; na preocupação com a melhoria da qualidade. Neste momento, temos 32 projetos de investigação cientifica e de desenvolvimento tecnológico a decorrer. Estes projetos têm um orçamento global de 44 milhões de euros, sendo cerca de 15 milhões geridos pelo ALGORITMI Os projetos são financiados pela AICEP, FCT, CCDR-N, ANI, AMA, CSIC e Comissão Europeia.
Em que medida projetos como o ALGORITMI contribuem para a missão da UMinho?
Através do Centro ALGORITMI e de todas as unidades de investigação, as Universidades têm a possibilidade de concretizar a transferência de conhecimento e de tecnologia para a comunidade e mostrar ao mundo a sua importância. Estes centros de I&D permitem a difusão do know-how, adquirido ao longo de anos, para a sociedade e para o tecido produtivo.
Gostaria deixar alguma mensagem final, que considere importante?
A Europa, e Portugal em particular, irão enfrentar problemas graves num futuro de médio prazo, relacionados com a diminuição da população e com a importância cada vez maior da tecnologia na vida das pessoas. A importância da Europa face aos mercados americanos e asiáticos está ameaçada por via da falta de investimento europeu em inovação e desenvolvimento, em comparação com esses outros mercados, para além do facto da burocracia na Europa ser muito superior. É provável que o que aconteceu com a Nokia no advento dos smartphones aconteça com outros mercados. Prevê-se que os mercados do trabalho irão sofrer alterações significativas com o aparecimento de novas profissões ou de novos perfis profissionais. Os centros de investigação e as universidades têm um papel fundamental neste contexto, mas sem o apoio das empresas e das instituições com capacidade de decisão e de financiamento, a qualidade de vida dos cidadãos da Europa e de Portugal estará ameaçada.